quarta-feira, 29 de outubro de 2008

O Palhaço e a Bailarina 




O Palhaço só tinha olhos para ela. Ela as vezes até se lembrava que o Palhaço existia.
 Dias e noites esses olhos rodavam perdidos por entre as assassinas curvas deste percurso sem acostamento ou seguro de vida. Pernas, seios, cintura...lábios. Que lábios! Vermelhos, quentes, inquietos, hora sorrindo, hora segurando o choro. E por entre esses inquietantes dotes a Bailarina seguia, sempre rodopiando, assim como a incerteza de sua vida.
 Com a loucura que apenas os apaixonados conhecem, o Palhaço resolveu entregar seu coração à Bailarina. E lá se foi, indo, indo, tropeçando, indo, tremendo, indo...parando. Com as mãos no bolso esmagava seu coração por entre os dedos perante ao calor frio que a Bailarina propagava pelo ambiente. Um gole seco, um impulso, um ato mal pensado, e estava feito. Com os braços esticados o Palhaço tinha seu coração em sua mão. Era um coração belo, mas, como o Palhaço, fraco e desarmônico. A Bailarina o olhou com surpresa, mas uma surpresa superficial que foi facilmente substituida pela indiferença. Afinal, era só um palhaço.
 Noites vieram, dias passaram, e o Palhaço passou todo o tempo buscando colocar um ritmo em seu coração para conquistar a Bailarina. Procurou ajuda com a Cartomante, mas seu futuro era incerto, e a previsão cara de mais. Correu então ao Mágico, mas tudo acabou com truques e espelhos. Desiludido, ao perambular pelos arredores do circo, encontrou uma antiga tenda onde eram guardados os equipamentos antigos do circo. Ao entrar na penumbra roxeada sob a lona encontrou um velho tambor que já havia sido outrora usado na fanfarra do circo, e decidiu toma-lo como ferramenta para domar seu coração.
 Tum, TUM, Tumtum, Tum... Cada batida uma puxada de ar. Uma dor no pulso. Uma fisgada nas costas. Uma pontada na cabeça. Uma gota de esperança. Essa foi a rotina do Palhaço até que conseguiu colocar em seu coração uma serenata de amor.
 Correu tropeçando em seus longos pés para entregar novamente seu coração à Bailarina, mas ao chegar ao picadeiro foi grande a surpresa; a Bailarina havia se entregado ao Atirador de Facas. Calorosos lábios, fôlegos e mãos se trombavam no centro do circo. O Palhaço apertou seu coração e o escondeu dentro do bolso para ver se a dor também se escondia, e se retirou perdido rumo a direção nenhuma.
 Assim são as Bailarinas. Sempre a procura de uma dose de adrenalina em suas veias, e uma dose extra de testosterona em seus corpos. Músculos sim, um pouco de moralidade e inteligência  podemos deixar para depois. Cada faca lançada, uma explosão de sentimentos. Esse misto de insegurança e de incerteza é que desperta o desejo da Bailarina pelo grande Atirador de Facas. Assim, ela o segue estupidamente.
 A Bailarina ama o Atirador de Facas, mas ele não a ama. Ele a tem. Para um atirador, mulheres são como facas, e não é possível se ter apenas uma. Algum dia o Atirador de Facas sairá com outras bailarinas, atingirá outros alvos e aumentará sua coleção. A Bailarina provavelmente saberá de algumas peças da coleção do Atirador, mas bastarão alguns arremeços de faca para reacender a paixão, fechar a boca e cegar os olhos novamente. Haverão dias que a Bailarina rodopiara em prantos, outros manterá o sorriso forçado para a platéia e em algumas raras manhãs azuis será verdadeiramente feliz. Mas isto não tem problema, faz parte da vida que as Bailarinas estão acostumadas.
 Enquanto isso, o Palhaço segue perdido em seus pensamentos e caminhos colocando em seu coração um tango argentino.


V.
17:30





locutor do picadeiro

Um dia mágico, noutro palhaço, e constantemente confuso. http://www.orkut.com.br/Main#Profile.aspx?uid=1333836914285045700


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